Indicador de Tipo Myers-Briggs


"Estudos mostraram que os funcionários de Serviços de Informação teem estilos de personalidade distintos o que muitas vezes não lhes permite colaborarem facilmente com os outros. Conhecendo o seu tipo e o dos outros é o primeiro passo para se compreender e desenvolver estratégias para trabalhar melhor com os outros membros do seu grupo." [de um anuncio na Web da Interpersonal Technology Group, Inc.]


Os psicólogos sempre desenvolveram métodos e testes de diagnóstico. Todos conhecemos o teste de Rorschach, ou teste dos borrões. Para nós "normais" o teste de Myers-Briggs, baseado em algumas noções de Jung, é uma arma vulgar dos cientistas sociais. Apesar de haver testes piores, como o chamado de "integridade" que afirma predizer se uma pessoa é honesta ou não.1

Porque é que quando leio a descrição seguinte de um perfil Myers-Briggs sinto que estou a ler Omar o astrólogo ou Madame Sophie a biorritmista? Julgue por si. A unica alteração feita é a referência ao tipo de personalidade. Veja como este perfil encaixa em si. Acho a experiência muito similar às de James Randi com os biorritmos e às leituras frias de Forer.

Tem muito calor dentro de si, mas pode não o mostrar até conhecer bem a outra pessoa. Guarda-o dentro de si, como um casaco de peles. É muito fiel a deveres e obrigações para com as pessoas de que gosta. Tem uma aproximação muito pessoal à vida, julgando tudo pelos seus elevados ideais e valores pessoais.

Mantem os seus ideais com apaixonada convicção. Apesar das suas lealdades e ideais interiores governarem a sua vida, tem dificuldade em falar deles. Os seus mais fundos sentimentos são raramente exprimidos; a sua ternura interiro é mascarada por uma tranquila reserva.

No dia-a-dia é tolerante, aberto, compreensivo, flexivel e adaptável. Mas se a sua lealdade interior é ameaçada, não cede um milimetro. Excepto pelo seu trabalho, não tem desejo de impressionar ou dominar. 

O seu principal interesse é ver as possibilidades para lá do presente, óbvio ou conhecido. É muito melhor quando faz aquilo que gosta, pois os seus sentimentos aumentam a energia dos seus esforços. Quer trabalhar para contribuir para algo que lhe importa- compreensão, felicidade, saude. Quer um propósito para lá do ordenado, por maior que este seja. É um perfeccionista sempre que algo o interessa.

Tem curiosidade para ideias novas e tende a ter uma visão aberta. Interessa-se, por vezes, por livros e linguagem, e é provável que tenha um certo dom de expressão; com talento pode ser um excelente escritor. Pode ser engenhoso e persuasivo no sujeito dos seus entusiasmos, calmos mas fundos. É frequentemente atraído por ensinar, literatura, arte, ciência, psicologia.

Pode sentir um contraste entre os seus ideais e o que atingiu actualmente que lhe dá um sentimento pesado de inadequação. É importante para si usar a sua intuição para encontrar modos de exprimir os seus ideais; de outro modo continuará a sonhar o impossivel e a realizar quase nada. Se não encontra modo de exprimir os seus ideais, torna-se sensivel e vulneravel, com uma confiança vacilante em si e na vida.

Não sei consigo, mas isto encaixa bem comigo... pelo menos as partes que encaixam... já não me lembro bem dos detalhes mas tenho a sensação de que era correcto. Diria que a minha experiência deve contar como prova cientifica da exactidão de Myers-Briggs.

Eis mais provas. Penso que cada uma das descrições seguintes de tipos Myers-Briggs encaixam em mim.

  1. Sério, calmo, consegue sucesso por concentração e esforço. Práctico, organizado, lógico, realista e de confiança. Faz com que tudo esteja bem organizado. Aceita responsabilidades. Decide o que deve ser feito e trabalha para isso, apesar de protestos ou distrações. [O Confiável: 6% da população]
  2. Geralmente teem mentes originais e desenvolvem as suas ideias e propósitos. Nos campos que o atraem, teem grande capacidade de organizar um trabalho e levá-lo até ao fim, com ou sem ajuda. Céptico, critico, independente, determinado, por vezes teimoso. Tem de aprender a ignorar pontos menos importantes de modo a vencer nos mais importantes. [O Cientista: 1% da população]
  3. Calmo e reservado. Especialmente aprecia desafios teóricos ou cientificos. Como resolver problemas de lógica e análise. Geralmente mais interessado em ideias, com pouco gosto para festas ou conversas sobre o tempo. Tende a ter interesses muito bem definidos. Necessita de carreiras em que fortes interesses possam ser uteis e utilizados. [O Arquitecto: 1% da população]

Do meu ponto de vista, testes psicológicos como o de Myers-Briggs não passam de jogos de salão. São validados pelo conjunto de conclusões que parecem encaixar nos dados, do mesmo modo que astrólogos usam padrões de predição que encaixam nos seus gráficos e leituras. A grande diferença, claro, é que os testes psicológicos teem por trás uma comunidade de estatísticos universitários que reforçam essa noção.

Para lá desta aparente semelhança entre as afirmações de Myers-Briggs e leituras astrológicas, há dois pontos pontos particulares que quero sublinhar acerca do teste de personalidade Myers-Briggs: primeiro, a questão das quatro escalas e dezasseis tipos; sedundo, a questão do uso destes testes.

Myers-Briggs Test Indicator começa assumindo que existem quatro categorias básicas pelas quais as pessoas devem ser classificadas.

Como uma pessoa é "energizada." Obtem a sua "energia" de dentro ou de fora de si? Se a recebe por ideias, emoções ou impressões pessoais, diz-se que é um "I"--uma pessoa caracterizada por Introversão. Se a recebe de pessoas, actividades ou coisas, é um "E" para Extroversão. MBTI assume que cada um de nós é profunda e fundamentalmente orientado para o mundo interior ou exterior. Esta divisão domundo entre fazedores e pensadores, actores e espectadores, extrovertidos e introvertidos, socialistas e capitalistas, romanticos e classicistas, dionisios e apolónios, empiricistas e racionalistas, masculinos e femininos, etc., é demasiado simplista. Não só este dualismo a priori trivializa personalidades complexas exigindo-lhes uma espécie de mistura alquimica de opostos, exclui aqueles que retiram a sua energia não do interior ou exterior mas de outros mundos, o mundo sobrenatural. Certamente estes seriam um terceiro tipo, os que retiram a sua energia do plano espiritual, cujos pensamentos se focam em coisas transcendentes e divinas.

Claro, há alguma verdade na noção de que algumas pessoas são sociáveis e outras não. Algumas teem muitas relações superficiais; outras teem poucas mas significativas. Mas isto é assim tão dificil de reconhecer? Falo nisto porque um dos argumentos a favor dos testes de personalidade é que podem ajudar a pessoa a descobrir-se a si mesma. Se a ajuda é descobrir o óbvio o teste não serve para muito. Por outro lado, se o que queremos saber é se uma pessoa é energizada do interior ou do exterior, uma boa conversa permite descobrir isso sem necessidade de mais testes. Tambem penso que saber isso não nos diz muito sobre a pessoa excepto em situações extremas. Se uma pessoa não consegue estar sózinha, não vai candidatar-se a um lugar de faroleiro. Pessoas que se candidatam a lugares inapropriados são incompetentes ou descuidados; um bom entrevistador descobre isso como toda a facilidade. De qualquer modo, o mais que se pode esperar classificando uma pessoa como E ou I é que isso será uma condição mecessária para o successo, mas não suficiente. O empregador pode fazer um teste que elimina os que não servem de todo, mas não eliminará aqueles que cumprem inadequadamente.

Como é que uma pessoa "percebe." Tem preferência em receber a informação através dos cinco sentidos e para notar mais o que é actual? Então é um "S." Se confia nas suas percepções inconsciente ou na intuição, então é um "N." Este dualismo entre S's e N's é enganador. Todos temos de confiar nos sentidos e reparar no que é actual. A  divisão devia ser feita entre os que seguem os seus palpiter apesar das evidências e os que exigem provas antes de actuar; ou entre os que pensam que sabem coisas mesmo se não as sabem explicar como as sabem, e os que avançam com provas. Mas isto tambem seria enganador, visto o Teste MB querer identificar a pessoa intuitiva como a que é imaginativa,  que consegue pensar em o que não é mas poderá ser. Para mim este dualismo baseia-se num profundo erro: assume que só aqueles que não se prendem com a evidencia dos sentidos são suficientemente imaginativos para ver para lá do que é e para o que pode ser. Quais as provas para esta noção? Mais, existem aqueles que vão contra as evidências dos sentidos não porque sejam imaginativos ou criativos, mas proque são estupidos ou dementes.

Claro que há pessoas que se fecham no aqui e agora dos sentidos, que não são capazes de imaginar nada que não exista já. E há os que são criativos ou inventivos. Suponho que faz sentido dividir o mundo entre os que dizem "Se funciona não mexa" e os que dizem "Não consigo olhar para nada sem pensar como poderá melhorar." Mas duvido que revele algum segredo se o seu teste descobrir que uma pessoa é "prática" ou "imaginativa." Mas só um louco acredita que uma pessoa prática não é imaginativa. De qualquer modo, penso que um empregador quer não só alguem que pode imaginar o que será, mas tirar daí algum lucro. Há algumas pessoas pr aí que não acreditam nos seus sentidos e que estão convencidos que inventaram máquinas de movimento perpétuo. Mais uma vez, uma entrevista de 5 minutos é melhor instrumento que um teste de personalidade para filtrar estes elementos.

Como uma pessoa "decide." Toma decisões de um modo lógico, impessoal, objectivo? Se sim, é um "T" (para pensador "thinking"). Se toma decisões baseado nos seus desejos, valores e desejos, então é um "F" (para "feeling). Esta classificação é a mais aborrecida, pois mesmo os cientistas, que presumo serão T's na sua actividade, não escolhem um prato no restaurante sem consultar o seu gosto pessoal. De qualquer modo, penso que a base para separar entre os que pensam e os que não pensam tem alguma base. Não queria que alguem baseado só nas suas intuições construisse as pontes onde passo. Mas posso confiar no MB para os distinguir? Penso que não. Quantas pessoas se enganam a si mesmas sobre se são Ts ou Fs? Penso que não muitas.

A tradicional oposição entre sentir e pensar, que pode ser traçada desde os antigos Gregos ou, para outra geração, até Mr. Spock no Star Trek, é fundamentalmente correcto num aspecto, mas fundamentalmente vazio noutro. É correcto se a pessoa está tão dominada pelas emoções que não controla o pensamento. Mas há outras relações que não são tão óbvias. A menos que uma pessoa seja motivada a pensar em algo, não se vai incomodar com isso. Nada motiva mais uma pessoa que fortes sentimentos. Pensamos mais profundamente naquilo que nos toca. George Orwell apontou há cerca de 50 anos que a razão porque o discurso politico é tão vago e eufemístico, é para impedir as pessoas de reagir. Expressões limpeza étnica, danos colaterais, etc, são escolhidas para prevenir reações fortes às realidades que mascaram. Dividir as personalidades nos que são basicamente objectivos versus os basicamente subjectivos falsifica a natureza subjectiviva da objectividade. Pretender que a pessoa pode ser despida de qualquer decisão é auto-iludirmo-nos. O que pode parecer impessoal pode bem ser indiferença.

Claro que o MBTI não significa por "sentimento" o que o resto de nós pensamos. Significa algo como o que chamamos "intuição". E "intuição" em MBTI não significa o que nós pensamos quando usamos esta palavra. Este uso da linguagem torna mais facil demonstrar que os tipos de personalidade encaixam nos individuos?

Finalmente, temos o "Viver." Esta é a Categoria do Modo de Vida. Prefere uma vida planeada e organizada? Se sim, é um J ("julgamento"). Se prefere espontaneidade e flexibilidade, é um P ("percepção"). Estas são muito interessantes. Infelizmente, o que para um é considerado "planeado e organizado" para outro é "retenção anal ". O que para um é "espontaneo e flexivel" é "arbitrário e indisciplinado" para outro. Suponho que esta bifurcação de personalidades se destina a acomodar a conhecida divisão do mundo entre cientistas e artistas, homens de negócios e musicos de rua, lavadores de janelas e poetas.

Parece-me que um bom trabalhador será o que desenha e segue um plano, mas é flexivel para reconhecer que as condições se podem alterar e ser capaz de alterar o plano ou mesmo desenhar um novo plano. Alguem acredita que se a Xerox Corporation tivesse usado o MBTI teria agora patentes para o interface gráfico tornado famoso pela Macintosh e copiado por Bill Gates? Teriam agora patentes para a Ethernet e as impressoras laser? A Xerox desenvolveu tudo isto, mas os executivos que decidem onde investir tempo e dinheiro não viram uso para estas coisas. Os executivos da IBM pensaram que ninguem iria querer um computador que pesasse menos de duas toneladas. Entra Bill Gates. Os Suiços não patentearam o relógio de quartzo, que inventaram, porque não eram flexiveis para ver que o sucesso passado do relógio mecânico não implicava que a história se repetia. Penso que o sonho de qualquer empregador é um teste rápido para predizerem como um empregado se comportará no futuro, mas penso que o MBTI é tão util para isso como os chamados testes de integridade que se supõem ajudar a determinar que potenciais empregados o vão roubar no futuro.

Temos portanto quatro divisões. O MBTI atribui uma letra de cada divisão para produzir um total de dezasseis diferentes tipos de personalidade. Parece óbvio que outras divisões são possiveis, como o enagrama. Há alguma utilidade para tais testes? Pode levar algumas pessoas a pensarem melhor sobre si mesmas. Tal auto-reflectir pode ser bom para muitas pessoas. Para lá disso, não concordo que esses testes sejam usados em empresas, terapias, auto-ajuda ou no mundo académico. Mas suponho que isto é um julgamento tipico de um IXTJ2.

Ver enagramas


1 Vi um programa de televisão sobre testes de integridade que incluia uma entrevista com o presidente de uma das empresas que os aplica. O seu filho tinha sido chumbado num desses testes ao candidatar-se a um emprego. O entrevistador teve o mau gosto de trazer essa questão à baila. O pai defendeu a integridade do filho e fez referência a estatisticas que podiam mostrar numa base ad hoc a defesa de qualquer previsão errada que fosse feita pelo teste. O mais interessante do programa foi que ninguem, dos que desenvolveram aos que administram os testes de integridade, tem qualquer ideia da "média de integridade" da população em geral. Ou seja, não teem com que comparar as suas predições. Se 60% da população é geralmente honesta, então se o teste é 40% correcto a encontrar pessoas desonestas, tem tanta capacidade de previsão como mandar uma moeda ao ar.

2O X significa o centro da secção da atenção: de acordo com o teste uso a atenção com igual peso nos sentidos e na intuição.


Links

Dawes, Robyn M. House of Cards - Psychology and Psychotherapy Built on Myth, (New York: The Free Press, 1994).

Forer, B.R.: Journal of Abnormal Psychology, artigo " the fallacy of Personal Validation", 1949.

Thiriart. "Acceptance of personality test results," Skeptical Inquirer, 1991 (vol. 15, no. 2). 

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