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Robert Todd Carroll

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Segundo uma pesquisa do Gallup, a crença na astrologia aumentou de 25% para 28% na última década.

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astrologia

...o que está embaixo é como o que está em cima... - Hermes Trimegisto

"A astrologia, do modo que é praticada atualmente (seja na sua forma tradicional ou psicológica), não é de qualquer relevância na compreensão de nós mesmos ou de nosso lugar no cosmo. Seus defensores modernos não são capazes de explicar qual o fundamento das associações astrológicas com as questões terrenas, não têm qualquer explicação plausível para suas alegações e não contribuíram com nenhum conhecimento de valor para qualquer campo das ciências sociais. Além disso, a astrologia não tem os recursos teóricos/conceituais para resolver adequadamente seus próprios problemas internos ou anomalias externas, ou para se decidir entre alegações ou sistemas astrológicos conflitantes." --I.W. Kelly, Modern Astrology: A critique, p. 931.

"O fato de ser incrível não deveria ser motivo para se descartar a possibilidade de que uma busca suficientemente longa revelasse um grão dourado de verdade na superstição astrológica." -- Johannes Kepler

If you want to know who controls your soul
  don't look to Mars or Venus;
  Look instead to the President
  for the danger's in his penis.
[Se quer saber quem controla sua alma
não olhe para Marte ou Vênus;
Em vez disso, olhe para o presidente
pois o perigo está em seu pênis.]

[autor desconhecido para mim]

 

A astrologia, em sua forma tradicional, é um método de adivinhação baseado na teoria de que as posições e movimentos dos corpos celestes (estrelas, planetas, sol e lua), no momento do nascimento, influenciam profundamente a vida da pessoa. Na sua forma psicológica, a astrologia é um tipo de terapia da Nova Era, usada para a auto-compreensão e a análise da personalidade. (Este verbete se refere à astrologia tradicional. Consulte astroterapia para uma discussão da astrologia psicológica.)

A forma mais tradicional é a Astrologia de Signos Solares, tipo encontrado em numerosos jornais diários que publicam horóscopos. O horóscopo é um prognóstico astrológico. O termo também é usado para descrever um mapa do zodíaco no momento do nascimento da pessoa. O zodíaco se divide em doze zonas celestes, cada qual recebendo o nome de uma constelação que originalmente coincidia com a zona (Touro, Leão, etc.). Todas as trajetórias aparentes do sol, da lua e dos principais planetas se encaixam dentro do zodíaco. Devido ao movimento da precessão, os pontos de equinócio e solstício se moveram para o oeste cerca de 30 graus nos últimos 2.000 anos. Assim, as constelações zodiacais que receberam seus nomes na antiguidade não correspondem mais aos segmentos do zodíaco representados por seus signos. Em resumo, se você tivesse nascido na mesma hora do mesmo dia do ano há 2.000 anos, teria nascido sob um signo diferente.

A astrologia ocidental tradicional pode ser dividida em tropical e sideral. (Astrólogos de tradições não-ocidentais utilizam sistemas diferentes.) O ano tropical, ou solar, é medido em relação ao sol e corresponde ao tempo (365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos) entre equinócios vernais sucessivos. O ano sideral é o tempo (365 dias, 6 horas, 9 minutos e 9,5 segundos) necessário para que a Terra complete uma órbita ao redor do sol relativa às estrelas. O ano sideral é mais longo que o tropical devido à precessão dos equinócios, ou seja, o lento deslocamento para o oeste dos pontos equinociais ao longo do plano da eclíptica, a uma taxa de 50,27 segundos de arco por ano, resultante da precessão do eixo de rotação da Terra. A astrologia sideral utiliza como base a constelação real na qual o sol se localiza no momento do nascimento. A tropical usa um setor de 30 graus do zodíaco como base. Esta é a forma mais popular e baseia suas leituras na época do ano, geralmente ignorando as posições relativas do sol e das constelações entre si. A astrologia sideral é usada por uma minoria de astrólogos e baseia suas leituras nas constelações próximas do sol no momento do nascimento.

Uma das defesas comuns a favor da astrologia é o argumento falacioso da popularidade e tradição: bilhões de pessoas no mundo acreditam na astrologia e ela tem sobrevivido por milhares de anos. Essas afirmações são verdadeiras, mas irrelevantes como prova da "veracidade" da astrologia. Os antigos caldeus e assírios se envolveram com a adivinhação astrológica há cerca 3.000 anos. Em torno de 450 AEC, os babilônios tinham desenvolvido o zodíaco de 12 signos, mas foram os gregos --do tempo de Alexandre, o grande, até a conquista pelos romanos-- que forneceram a maioria dos elementos fundamentais da astrologia moderna.

A disseminação das práticas astrológicas foi contida pela ascensão do cristianismo, que enfatizava a intervenção divina e o livre arbítrio. Na renascença, a astrologia recuperou popularidade, em parte devido ao ressurgimento do interesse pela ciência e pela astronomia. Teólogos cristãos, no entanto, combateram a astrologia e, em 1585, o Papa Sisto V a condenou. Na mesma época, os trabalhos de Kepler e outros enfraqueceram os princípios astrológicos.

A astrologia é testável?

Um segundo argumento a favor da astrologia é o de que ela é testável e que há indícios de que os dados apóiem a hipótese de uma conexão causal entre os corpos celestes e os eventos humanos. Por exemplo, de acordo com o assim chamado Efeito Marte, grandes atletas são natos, não feitos. Essa afirmação é baseada numa análise estatística das datas de nascimento de grandes atletas e a posição de Marte quando nascem. Diz-se que a correlação é maior do que o que se esperaria pelo acaso. Outros discordam e alegam que os indícios não mostram uma correlação que não seria esperada pelo acaso. No entanto, mesmo se houvesse uma correlação significativa entre a posição de Marte na data do nascimento e o fato da pessoa se tornar um atleta excepcional, isso não implicaria ou mesmo indicaria existir uma conexão causal entre a posição de um planeta e o tipo de atividade em que a pessoa se daria bem na Terra. A correlação entre x e y não é uma condição suficiente para a crença racional de que x causa y. Mesmo uma correlação estatisticamente significativa entre x e y não é uma condição suficiente para uma crença racional numa correlação causal, muito menos para a crença de que x causa y. Correlação não prova causalidade.

Embora não prove, a correlação é extremamente atraente para os defensores da astrologia. Por exemplo: "Entre 3.458 soldados, Júpiter é encontrado 703 vezes, nascendo ou culminando quando eles nascem. As leis das probabilidades prevêem que deveriam ser 572. As chances disso acontecer: uma em um milhão" (Gauquelin). Estou disposto a assumir que todos os dados estatísticos que mostram uma correlação significativa entre diversos planetas nascendo, se pondo, culminando, ou o que quer que se possa vê-los fazer, é acurada. No entanto, seria mais surpreendente se entre todos os bilhões e bilhões de movimentos celestes concebíveis não houvesse uma grande parte que pudesse ser significativamente correlacionada com dezenas de eventos em massa ou traços de personalidade individuais.

Por exemplo, os defensores da astrologia gostam de observar que 'a duração do ciclo menstrual da mulher corresponde às fases da lua' e que 'os campos gravitacionais do sol e da lua são fortes o bastante para causar a subida ou a descida das marés na Terra.' Se a lua pode afetar as marés, então pode certamente afetar uma pessoa. Mas o que existe de análogo às marés numa pessoa? Somos lembrados de que os seres humanos começam a vida num mar amniótico e de que o corpo humano é 70% água! Se as ostras abrem e fecham as conchas de acordo com as marés, as quais fluem de acordo com as forças eletromagnéticas e gravitacionais do sol e da lua, e se os seres humanos estão cheios de água, não é então óbvio que devam ser influenciados pela lua também? Pode ser óbvio, mas os indícios vindos dos estudos da lua não confirmam isso.

Os astrólogos dão ênfase à importância das posições do sol, da lua, dos planetas, etc. no instante do nascimento. Mas por que as condições iniciais seriam mais importantes para a personalidade e as características de uma pessoa que todas as condições subseqüentes? Por que seria escolhido como o momento crucial o nascimento, e não a concepção? Por que outras condições iniciais como a saúde da mãe, as condições do local do parto, fórceps, luzes fortes, sala escura, banco traseiro de um automóvel, etc., não seriam mais importantes do que se Marte está ascendendo, descendendo, culminando ou fulminando? Por que o planeta Terra, muito mais próximo de nós no nascimento, não seria considerado uma influência importante no que somos e no que nos tornamos?

Além do Sol e da Lua, e de algum cometa ou asteróide passando ocasionalmente, a maioria dos objetos planetários está demasiado distante de nós. Qualquer influência que pudessem ter sobre o nosso planeta seria encoberta pelas do Sol e da Lua. É muito mais provável que a Terra, e as pessoas e coisas com as quais se tem contato direto, sejam fatores de influência mais importantes nas nossas vidas que distantes corpos celestes. Além disso, se for verdade que podemos determinar efeitos específicos a partir de condições específicas do local do nascimento, então podemos controlar essas condições de forma a trazer resultados benéficos. Por outro lado, mesmo se for verdade que a posição das estrelas e planetas seja mais importante para a vida da pessoa do que um nascimento difícil e passado sob condições horrendas, não há nada que possamos fazer em relação à posição das estrelas, e há um limite no controle que podemos ter sobre o momento do nascimento de uma pessoa. (Ainda bem que não vou ser um astrólogo na era dos bebês de proveta. Como eu iria saber quando o meu cliente 'nasceu'? O processo do nascimento não é instantâneo. Não existe um momento único no qual a pessoa nasce. O fato de que algum funcionário escreva em algum lugar um horário do nascimento é irrelevante. Será que escolhem o momento em que a bolsa se rompe? O momento em que ocorre a primeira dilatação? Quando o primeiro fio de cabelo ou unha do pé aparece? Quando a última unha do pé ou fio de cabelo ultrapassa o último milímetro da vagina ou da superfície da barriga? Quando se corta o cordão umbilical? Quando se faz a primeira respiração? Ou o momento em que o médico ou a enfermeira olham para um relógio de parede ou de pulso [sem dúvida magicamente livre da possibilidade de imprecisão] para anotar o momento do nascimento?)

Ninguém diria que, para que se compreendesse o efeito da lua sobre as marés ou sobre as batatas, fosse preciso entender as condições inicial da singularidade que precedeu o Big Bang, ou a posição das estrelas no momento em que as batatas foram colhidas. Para que se saiba a respeito da maré baixa de amanhã, não é preciso saber onde estava a lua quando o primeiro oceano ou rio se formou, ou se os oceanos vieram primeiro e a lua depois, ou vice-versa. Condições iniciais são menos importantes que as presentes para que se compreendam efeitos atuais sobre rios e plantas. Se isso vale para marés e plantas, por que não valeria para as pessoas?

correlação não é causalidade

Esse fascínio pelas correlações também é encontrado no raciocínio dos que tentam transformar todo sítio megalítico antigo em algum tipo de observatório astronômico. Os defensores da astrologia deveriam observar o que Aubrey Burl escreveu a respeito desse tipo de raciocínio.

… são grandes as probabilidades de que ocorra fortuitamente uma boa linha de visão celeste em quase qualquer círculo. Examine-se um sítio como Grey Croft, em Cumberland,... 27,1 x 24,4 m de diâmetro, com doze pedras e uma extra, parecem haver tantas linhas e tantos alvos possíveis que seria improvável não descobrir nada (Burl, 50).

Além disso, embora seja verdade que as chances de se passar 20 vezes seguidas num jogo de dados sejam inconcebivelmente baixas, isso já aconteceu. Havendo jogos suficientes, o inconcebível se torna freqüente. Em resumo, o que parece desafiar as "leis" da estatística pode não estar realmente o fazendo, quando se examina com mais cuidado.

Para concluir, há aqueles que defendem a astrologia argumentando com o quanto os horóscopos profissionais acertam. Um colega, professor de história da Universidade da Califórnia em Davis, com título de Ph.D, pratica a astrologia. Naturalmente, possui tecnologia e tem um programa de computador para ajudá-lo a fazer as leituras. Conhece todos os argumentos contra a astrologia e até admite que logicamente ela não deveria funcionar. Mas funciona, acredita ele. Esse conceito de 'funciona' é curioso. O que será que significa?

Basicamente, dizer que a astrologia funciona quer dizer que há muitos consumidores satisfeitos. Não significa que seja precisa na predição do comportamento humano ou de eventos num grau significativamente maior que o da pura sorte. O principal apoio a esse argumento aparece na forma de relatos e testemunhos. Há muitos clientes satisfeitos que acreditam que os horóscopos os descrevem com precisão, e que os astrólogos lhes deram bons conselhos. Esse tipo de indício não comprova a astrologia tão bem quanto demonstra os efeitos da leitura a frio, o efeito Forer, e a predisposição para a confirmação. Bons astrólogos dão bons conselhos, mas isso não valida a astrologia. Vários estudos mostraram que as pessoas usam o pensamento seletivo para fazer com que qualquer carta astrológica que apresentarem a elas se encaixe em suas idéias preconcebidas sobre si mesmas. Muitas das afirmações que são feitas a respeito de signos e personalidades são vagas, e se encaixariam em muitas pessoas de diferentes signos. Até mesmo astrólogos profissionais, a maioria dos quais despreza a Astrologia de Signos Solares, não é capaz de escolher uma leitura de horóscopo correta num índice de acertos maior que o esperado pelo acaso. Mesmo assim, a astrologia continua mantendo a popularidade, apesar de não haver um mínimo de comprovação científica a seu favor. Mesmo a primeira dama dos Estados Unidos, Nancy Reagan, e seu marido Ronald, quando era o líder do mundo livre, consultaram um astrólogo, o que me leva a concluir que os astrólogos têm mais influência que as estrelas.

Será possível que eu seja quem sou devido à posição dos planetas, estrelas, luas, cometas, asteróides, quasares, buracos negros, etc., no momento do meu nascimento? Sim, é possível. Será que eu tenho alguma razão para achar que isso é mais provável que o oposto, ou seja, de que essas questões sejam insignificantes e irrelevantes para o meu 'destino'? Não. Não consigo encontrar sequer uma única boa razão para acreditar em nada disso. Mas eu sou taurino, e todos sabemos o quão teimoso eu devo ser.

Veja verbetes relacionados sobre astroterapia, cosmobiologia, e a lua cheia.


leitura adicional

Burl, Aubrey. The Stone Circles of the British Isles [Os Círculos de Pedra das Ilhas Britânicas] (New Haven and London: Yale University Press, 1976).

Culver, Roger B. e Philip A. Ianna. Astrology, True or False? : A Scientific Evaluation [Astrologia, Verdadeira ou Falsa? : Uma Avaliação Centífica] (Buffalo, NY: Prometheus Books, 1988).

Dean, Geoffrey e Arthur Mather e Ivan W. Kelly, "Astrology," em The Encyclopedia of the Paranormal [Enciclopédia do Paranormal], ed. G. Stein (Amherst, N.Y.: Prometheus Books, 1996).

Gauquelin, Michel. "Spheres of Influence [Esferas de Influência]," Psychology Today [Brit], No. 7, outubro de 1975, pp. 22-27; reimpresso em Philosophy of Science and the Occult [A Filosofia da Ciência e o Oculto] (Albany: State University of New York Press, 1990), 

Jerome, Lawrence E. Astrology Disproved [Astrologia Refutada] (Amherst, NY: Prometheus Books, 1977).

Kelly, I.W. , G.A. Dean and D.H. Saklofske, "Astrology, A Critical Review [Astrologia, Uma Análise Crítica]," em Philosophy of Science and the Occult [A Filosofia da Ciência e o Oculto] (Albany: State University of New York Press, 1990), 2a. edição, editor Patrick Grim; pp. 51-81.

Kelly, I.W. "Modern Astrology: A Critique [Astrologia Moderna, Uma Crítica]," Psychological Reports, 1997, 81, 1035-1066.

Kelly, I.W.  "Why Astrology Doesn't Work [Por Que a Astrologia Não Funciona]," Psychological Reports, 1998, 82, 527-546.

Martens, R., & Trachet, T. (1998) Making Sense of Astrology [Entendendo a Astrologia] (Amherst, NY: Prometheus Books, 1998). 

Randi, James. Flim-Flam! (Buffalo, New York: Prometheus Books,1982), capítulo 4. Nature [Natureza], Vol. 318 p. 419 (5 de dezembro de 1985).

©copyright 1998
Robert Todd Carroll

traduzido por
Ronaldo Cordeiro

Última atualização: 2008-10-15

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