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lua cheia e efeitos lunares
Ivan Kelly, James Rotton e Roger Culver examinaram mais de 100 estudos sobre efeitos lunares e concluíram que os estudos falharam em mostrar uma correlação confiável e significativa (ou seja, que não fosse devida provavelmente ao acaso) entre a lua cheia, ou qualquer outra fase da lua, e cada um dos seguintes:
Se tantos estudos falharam em provar uma correlação significativa entre a lua cheia e qualquer coisa, por que tantas pessoas acreditam nesses mitos lunares? Kelly, Rotton e Culver suspeitam de quatro fatores: efeitos da mídia, folclore e tradição, concepções errôneas e vícios cognitivos. Eu acrescentaria um quinto fator: reforço comunal. a mídia perpetua os mitos lunares Kelly e os outros observam que os mitos lunares são freqüentemente apresentados em filmes e obras de ficção. "Com a constante repetição na mídia de uma associação entre a lua cheia e o comportamento humano, não é surpresa que tais crenças estejam amplamente difundidas entre o público geral," eles afirmam. Os repórteres também "favorecem aqueles que afirmam que a lua cheia influencia o comportamento." Não daria uma boa reportagem se a lua estivesse cheia e nada acontecesse, eles observam. Evidências testemunhais dos efeitos lunares não são difíceis de encontrar e os repórteres as acolhem, embora este tipo de evidência não seja confiável para estabelecer correlações significativas. A confiança em experiências pessoais ignora a possibilidade da auto-ilusão e do vício para a confirmação. Tais evidências podem não ser confiáveis, mas no entanto são convincentes para a mente acrítica. folclore e tradição Muitos dos mitos lunares têm raízes no folclore. Por exemplo, um fragmento Assírio/Babilônio declarava que "Uma mulher está fértil conforme a lua." Noções como esta foram transformadas em conceitos errados amplamente difundidos sobre a fertilidade e taxas de natalidade. Por exemplo, Eugen Jonas, um psiquiatra eslovaco, foi inspirado por esta idéia folclórica para criar um método de controle de natalidade e fertilidade amplamente enraizado em superstições astrológicas. A crença de que há mais nascimentos durante a lua cheia persiste até hoje entre muitas pessoas instruídas. Estudos científicos, entretanto, não conseguiram encontrar qualquer correlação significativa entre a lua cheia e o número de nascimentos (veja "Lunar phase and birth rate: A fifty-year critical review," [Fase da lua e taxa de natalidade: Uma revisão crítica de cinqüenta anos] por R. Martens, I. Kelly, e D. H. Saklofske, Psychological Reports, 63, 923-934, "Lunar phase and birthrate: An update," [Fase da lua e taxa de natalidade: uma atualização] por I. Kelly e R. Martens, Psychological Reports, 75, 507-511). Em 1991, Benski e Gerin relataram que tinham analisado datas de nascimeto de 4.256 bebês nascidos em uma clínica na França e "os encontraram igualmente distribuídos dentro do ciclo lunar sinódico (de fases)" (Kelly, et al. 1996, 19). Em 1994, os pesquisadores italianos Periti e Biagiotti relataram em seu estudo 7.842 partos espontâneos por um período de 5 anos em uma clínica em Florença. Eles não descobriram "nenhuma relação entre a fase da lua e o número de partos espontâneos" (Kelly, et al. 1996, 19). A despeito do fato de que não haja nenhuma evidência de uma correlação significativa entre fases da lua e fertilidade, algumas pessoas não só insistem em que exista, como tem uma explicação "científica" para a correlação inexistente. De acordo com "Angela" da AstraConceptions em fertilityrhythms.com,
Sim, isto é muito interessante de se observar... se você estiver interessado em magia simpatética. (A autora também acha digno de nota que animais que se reproduzem sazonalmente também troquem de pele sazonalmente.) A autora continua
Óbvio. Entretanto, a luz da lua é uma fonte de luz de muito menor importância na vida da maioria das mulheres, e não tem maior probabilidade do que a força gravitacional da lua de ter um efeito significativo sobre a ovulação de uma mulher. Além disso, o ciclo menstrual médio é de 28 dias e varia de mulher para mulher e de mês a mês, enquanto que o comprimento do mês lunar é de consistentes 29,53 dias. Alguns de nós já perceberam que estes ciclos não são idênticos. Mais notável do que quão freqüentemente os seres humanos ou os animais trocam de pele é que tem havido muito poucas pesquisas sobre mudanças hormonais ou neuroquímicas durante as fases lunares. A pesquisa de James Rotton na literatura "não conseguiu descobrir nenhum estudo ligando ciclos lunares a substâncias que têm sido implicadas como possivelmente relacionadas ao stress e à agressividade (por exemplo, serotonina, melatonina, epinefrina, norepinefrina, testosterona, cortisona, vasopressina [diretamente relevante para o conteúdo de fluídos], hormônio do crescimento, pH, 17-OHCS, hormônio adrenocrotrópico)."* Alguém poderia pensar que esta área deveria estar bem estudada, já que se sabe que os hormônios e neuroquímicos afetam a menstruação e o comportamento. idéias erradas Kelly e outros observam que idéias erradas sobre coisas como o efeito da lua sobre as marés contribuíram para a mitologia lunar. Muitas pessoas parecem pensar que, já que a lua afeta as marés dos oceanos, ela deve ser tão poderosa que afeta o corpo humano também. Ela, na verdade, é uma força muito fraca. Uma mãe segurando seu filho "exerce 12 milhões de vezes mais força da maré sobre a criança do que a lua" (Kelly et al., 1996, 25). O astrônomo George O. Abell afirma que a força gravitacional da lua é menor que a de um mosquito (Abell 1979). Apesar destes fatos físicos, ainda há uma crença amplamente difundida de que a lua pode causar terremotos.* O fato de que o corpo humano é em sua maior parte água grandemente contribui para a noção de que a lua deveria ter um efeito poderosos sobre ele, e logo um efeito sobre o comportamento. É afirmado por muitos que a terra e o corpo humano são ambos 80% água. Isto é falso. Oitenta porcento da superfície da terra é água. Além do mais, a lua afeta apenas massas não confinadas de água, enquanto que a água no corpo humano está confinada. Ainda, a força da lua para causar marés na terra depende da sua distância da terra, não de sua fase. Enquanto o período sinódico é de 29.53 dias, são precisos 27.5 dias para que a lua se mova em sua órbita elíptica de perigeu a perigeu (ou apogeu a apogeu). O perigeu (quando a lua está mais próxima da terra) "pode ocorrer em qualquer fase do ciclo sinódico" (Kelly et al. 1990, 989). Marés mais altas realmente ocorrem nas luas novas e cheias, mas não porque a tração gravitacional da lua seja mais forte nestes períodos. Ao invés disso, as marés são mais altas aí porque "o sol, a terra e a lua estão em alinhamento e a força para causar marés do sol se junta à da lua nestes momentos para produzir marés mais altas" (Kelly et al. 1990, 989). Muitas das idéias erradas sobre os efeitos gravitacionais da lua sobre as marés, assim como vários outros conceitos lunares errados, parecem ter sido gerados por Arnold Lieber em The Lunar Effect (O Efeito Lunar) (1978), republicado em 1996 como How the Moon Affects You(Como a Lua Afeta Você). Leiber incorretamente previu que um terremoto catastrófico iria atingir a Califórnia em 1982, devido ao alinhamento coincidente da lua e dos planetas. vícios cognitivos e reforço comunal Finalmente, muitos acreditam em mitos lunares porque os ouviram ser repetidos muitas vezes por membros da mídia de massas, por policiais, enfermeiras, médicos, assistentes sociais e outras pessoas influentes. Assim que muitas pessoas acreditam em alguma coisa e recebem uma quantidade significativa de reforço comunal, elas ficam bastante seletivas sobre o tipo de dados aos quais elas prestarão atenção no futuro. Se alguém acredita que durante uma lua cheia existe um aumento nos acidentes, esta pessoa irá notar quando acontecerem acidentes durante uma lua cheia mas ficará desatenta à lua quando os acidentes acontecerem em outras ocasiões. Se algo estranho acontecer e houver uma lua cheia no momento, uma conexão causal será assumida. Se algo estranho acontecer e não houver lua cheia, nenhuma conexão será feita, mas o evento não será visto como contra-evidência para a crença na causalidade da lua cheia. Lembranças se tornam seletivas, e talvez mesmo distorcidas, para favorecer uma hipótese da lua cheia. Uma tendência de fazer isso ao longo do tempo fortalece a crença de uma pessoa na relação entre a lua cheia e uma enormidade de efeitos não relacionados. a lua, loucura e suicídio Provavelmente, o mito mais amplamente acreditado a respeito da lua cheia é de que ela é associada com a loucura. Entretanto, ao examinar mais de 100 estudos, Kelly, Rotton e Culver descobriram que "fases da lua contribuiram com não mais que 3/100 de 1 por cento da variabilidade nas atividades usualmente denominadas lunatismo" (1996, 18). De acordo com James Rotton, "uma percentagem tão pequena é próxima demais de zero para ser de qualquer interesse ou significância teórica, prática ou estatística."* Finalmente, a noção de que exista uma influência lunar nos suicídios é também insubstanciada. Martin, Kelly e Saklofske revisaram numerosos estudos feitos ao longo de quase três décadas e não encontraram nenhuma associação significativa entre fases da lua e mortes por suicídio, tentativas de suicídio ou ameaças suicidas. Em 1997, Gutiérrez-García e Tusell estudaram 897 mortes por suicídio em Madri e não encontraram "nenhuma relação significativa entre o ciclo sinódico e a taxa de suicídios" (1997, 248). Estes estudos, assim como outros que não conseguiram encontrar qualquer coisa interessante acontecendo durante a lua cheia, passaram largamente, mas não completamente*, desapercebidos pela imprensa. Veja entradas relacionadas sobre reforço comunal, vício para a confirmação, estudos de controle, Navalha de Occam, a falácia post hoc, pensamento seletivo, auto-ilusão, e validação subjetiva. leitura adicional
Abell, George. "The Alleged Lunar Effect" em Science Confronts the Paranormal, editado por Kendrick Frazier. (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1986). $19.16 Abel faz uma análise bastante crítica de The Lunar Effect: Biological Tides and Human Emotions do psiquiatra Arnold L. Lieber. Abell, George O. "The moon and the birthrate," Skeptical Inquirer, Summer 1979, vol. 3, no. 4. Hines, Terence. Pseudoscience and the Paranormal (Buffalo, NY: Prometheus Books, 1990). $19.16 Byrnes, Gail e I.W. Kelly. "Crisis Calls and Lunar Cycles: A Twenty-Year Review," Psychological Reports, 1992, 71, 779-785. Gutiérrez-García, J. M. e F. Tusell. "Suicides and the Lunar Cycle," Psychological Reports, 1997, 80, 243-250. Jamison, Kay R. Night Falls Fast: Understanding Suicide (Knopf, 1999). $18.20 Kelly, I. W., W. H. Laverty, e D. H. Saklofske. "Geophysical variables and behavior: LXIV. An empirical investigation of the relationship between worldwide automobile traffic disasters and lunar cycles: No Relationship," (Variáveis geofísicas e comportamento: LXIV. Uma investigação empírica da relação entre desastres automobilísticos no trânsito e ciclos lunares: Nenhuma relação) Psychological Reports, 1990, 67, 987-994. Kelly, I.W., James Rotton, e Roger Culver. "The Moon was Full and Nothing Happened: A Review of Studies on the Moon and Human Behavior and Human Belief," (A Lua Estava Cheia e Nada Aconteceu: Uma revisão dos Estudos Sobre a Lua e o Comportamento Humano e a Crença Humana) em J. Nickell, B. Karr e T. Genoni, eds., The Outer Edge (Amherst, N.Y.: CSICOP, 1996). Esta é uma versão atualizada de um artigo que apareceu originalmente na Skeptical Inquirer Winter 1985-86 (vol. 10, no. 2) e foi reimpressa em The Hundredth Monkey and Other Paradigms of the Paranormal, editado por Kendrick Frazier (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1991), pp. 222-234. $18.36 Martin, S.J., I.W. Kelly e D.H. Saklofske. "Suicide and Lunar Cycles: A Critical Review over 28 Years," (Suicídio e Ciclos Lunares: Uma Revisão Crítica de 28 Anos) Psychological Reports, 1992, 71, 787-795. |
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©copyright 1998 Robert Todd Carroll traduzido
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Última
atualização: 1999-12-31 |