
Robert
Todd Carroll

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sonhos lúcidos
...para sonhar,
Você tem que ainda estar dormindo.
--Bob Dylan, "When You Gonna Wake Up?" [Quando
Você Vai Acordar?] (1979) [espero que ele não
leve a mal a ironia]
O sétimo tipo
de sonhos, que eu chamo de sonhos lúcidos, parece
ser o mais interessante e digno da mais cuidadosa
observação e estudo. Experimentei e transcrevi 352
casos desse tipo no período de 20 de janeiro de 1898
e 26 de dezembro de 1912.
Nesses sonhos
lúcidos, a reintegração das funções psíquicas
é tão completa que o sonhador se recorda do
dia-a-dia e de sua própria condição, alcança um
estado de perfeita consciência e é capaz de
direcionar sua atenção e tentar diferentes atos de
livre escolha. Ainda assim, posso afirmar com
confiança, o sonho é imperturbado, profundo e
revigorante. Tive meu primeiro vislumbre dessa
lucidez no sono em junho de 1897, da seguinte forma:
sonhei que flutuava através de uma paisagem com
árvores desfolhadas, sabendo que era o mês de
abril, e observei que a perspectiva dos ramos mudava
de forma bem natural. Assim, refleti durante o sono
que minha imaginação nunca seria capaz de inventar
ou criar uma imagem tão intrincada como o movimento
em perspectiva de pequenos ramos vistos ao flutuar. ---Frederik van Eeden, A Study
of Dreams [Um Estudo dos Sonhos] (1913)
O sonho lúcido consiste em sonhar estando ciente de
que se está sonhando. Os defensores dessa prática se
esforçam para controlar e guiar seus sonhos. Por que
alguém iria querer guiá-los? Alguns desejam evitar
pesadelos recorrentes. Outros buscam diversão. Alguns
sonhadores lúcidos da Nova Era, no entanto, acreditam
que esse tipo de sonho é essencial para o
auto-aperfeiçoamento e crescimento pessoal.
Stephen LaBerge, Ph.D., criador do movimento Nova Era
dos sonhos lúcidos para os espiritualmente debilitados,
alega que a prática é
um tesouro inestimável que cada um de nós
possui. Esse tesouro, a capacidade de sonhar
lucidamente, nos dá a oportunidade de experimentar
qualquer coisa imaginável -- superar limitações,
medos e pesadelos, explorar nossas mentes, viver
aventuras incríveis e descobrir a consciência
transcendente.
Os sonhos comuns nos dão uma idéia dessas
possibilidades, através de sua violação das regras
da vida desperta, e sua oferta ocasional de
percepções a respeito de nossas vidas. A arte de
sonhar é uma habilidade que se pode aprender, e eu
acredito que o nível mais elevado dessa capacidade
se encontra nos sonhos lúcidos. Eles são sonhos em
que se que está sonhando, e em que se tem
consciência de que o sonho é uma criação da
própria pessoa.
Com a lucidez vem um sentimento assombroso e
empolgante de liberdade -- o conhecimento de que se
pode fazer qualquer coisa, livre dos limites de
qualquer lei da física ou da sociedade. Um dos
primeiros prazeres de muitos sonhadores lúcidos é o
de voar, como um pássaro, livre das amarras da
gravidade. A partir daí, as pessoas podem ir além,
para descobrir o grande poder dos sonhos lúcidos de
transformar suas vidas.
Se alguém precisar de ajuda para sonhar, pode comprar
livros, fitas, publicações científicas e dispositivos
de indução, como o DreamLight (US$ 1.200), o
DreamSpeaker (US$ 150) ou o NovaDreamer (US$ 275), do LaBerge's Lucidity
Institute. Se não for suficiente, pode assistir a um
seminário
numa bela estância tropical, onde se pode aprender todas
as últimas técnicas que auxiliam no acesso à "mente inconsciente,"
uma absoluta necessidade para se ter uma vida agradável.
Por mais US$ 35, pode-se até conseguir 2,0 unidades de
crédito de assistência educacional contínua pelo Institute of Transpersonal
Psychology.
A razão pela qual o Dr. LaBerge não defende
simplesmente que se sonhe acordado para se obter todo
esse maravilhoso conteúdo transcendental é explicada
por Frederick van Eeden. Quando estamos acordados, somos
lógicos e nos sentimos restritos pelas regras sociais
convencionais e as opressivas leis da natureza. Nossa
imaginação estaria reprimida demais pela nossa
consciência desperta para que nos permitisse voar com os
espíritos ou ver ramos intrincados. Assim, precisamos
dormir para libertar a imaginação. Ao menos isso é
menos perigoso que tomar alucinógenos para liberar a
alma.
À primeira vista, poderia parecer que os Luciditas
querem nos ensinar a controlar o conteúdo de
nossos sonhos. LaBerge certamente faz parecer que o
objetivo é controlar os sonhos para que se
tenha experiências como a de voar. No entanto, alega que
não é o caso
A lucidez e o controle dos sonhos não são a
mesma coisa. É possível estar lúcido e ter pouco
controle sobre o conteúdo do sonho ou, pelo
contrário, ter grande controle sem estar
explicitamente ciente de que se está sonhando.
Apesar disso, tornar-se lúcido num sonho tende a
aumentar sua influência voluntária sobre o curso
dos eventos. Uma vez que se sabe que está sonhando,
é provável que se escolha alguma atividade que só
é possível em sonho. Sempre se tem a escolha de
quanto controle se quer exercer, e de que tipo. Por
exemplo, pode-se continuar com o que quer que se
esteja fazendo no momento em que ficar lúcido, com o
conhecimento adicional de que se está sonhando. Ou
pode-se tentar mudar tudo -- a cena do sonho, a si
próprio, outros personagens do sonho, etc. Nem
sempre é possível fazer "mágica" nos
sonhos, como transformar um objeto em outro ou
transformar cenas. A capacidade do sonhador de ter
sucesso nisso depende muito de sua confiança. Se
acreditar que não pode fazer algo num sonho,
provavelmente não será capaz de fazê-lo. [FAQ]
Será que nosso objetivo deveria ser dormir para
sempre e viver num mundo de sonhos? Quais são os
indícios de que quanto mais sonhos lúcidos uma pessoa
tem, melhor ela é? De que forma ter mais sonhos em que
se está voando ou surfando transformará a vida de
alguém? Sonhos assim podem ser divertidos, mas será que
não se poderia tê-los sem gastar milhares de dólares
com os aparelhos do Dr. LaBerge?
Para alguns sonhadores, o objetivo principal é ter
sonhos lúcidos indistinguíveis de Experiências
Extracorpóreas ou OBEs.
Voar nos sonhos, sem as limitações da gravidade, tira
algumas pessoas de seus corpos para que flutuem e vejam a
si próprias sonhando lucidamente.
Alguns céticos não acreditam que exista esse estado
de sonho lúcido [ex. Malcolm, Dreaming [Sonhando] (Londres:
Routledge, 1959)]. Os céticos não negam que às vezes
estamos cientes de estar sonhando. O que negam é que
exista um estado especial chamado de 'estado lúcido'.
Assim, o sonho lúcido não é um portal para a
"consciência transcendente" mais do que os
pesadelos o são. Mas LaBerge
alega ter provado que os céticos estão errados:
Fornecemos a verificação necessária
instruindo pessoas a sinalizar o início dos sonhos
lúcidos com ações específicas nos sonhos, que
fossem observáveis num polígrafo (movimentos de
olhos e cerrar de punhos). Usando essa abordagem,
LaBerge, Nagel, Dement & Zarcone
(1981)["Psychophysiological correlates of the
initiation of lucid dreaming," [Correlações
psicofisiológicas do início dos sonhos lúcidos] Sleep
Research, 10, 149.] relataram que a
ocorrência dos sonhos lúcidos foi demonstrada para
cinco sujeitos durante sonho REM inequívoco.
Isso deveria ser prova suficiente para acordar
qualquer cético com narcolepsia. Se não for, pode-se
considerar a hipótese de que a autoconsciência reside
no córtex prefrontal, que apresenta atividade
reduzida durante o sono para a maioria das pessoas na
maior parte do tempo. Essa atividade reduzida pode muito
bem ser a razão pela qual podemos sonhar com as coisas
mais bizarras sem ter consciência do quão estranhas
elas são, até que acordemos e nos lembremos delas.
Talvez os sonhos lúcidos sejam possíveis para algumas
pessoas porque seus lobos frontais não repousem durante
o sono.
Veja verbetes relacionados sobre sonhos e experiências
extracorpóreas.
leitura adicional
Gackenbach,
Jayne, e Stephen Laberge (Editor) Conscious Mind,
Sleeping Brain : Perspectives on Lucid Dreaming [Mente
Consciente, Cérebro Adormecido: Perspectivas dos Sonhos
Lúcidos] (Plenum, 1988).
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