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Todd Carroll

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falácia regressiva
A falácia regressiva ocorre
quando se deixa de levar em conta as flutuações
naturais e inevitáveis das coisas quando tentamos
verificar suas causas [Gilovich, p. 26]. Coisas como
preços de ações na bolsa, pontuações no golfe e
dores crônicas nas costas inevitavelmente flutuam.
Períodos de preços em baixa, pontuações baixas e
pouca ou nenhuma dor são, cedo ou tarde, seguidos por
períodos de preços e pontuações altas, e dores mais
fortes. A ignorância dessas flutuações e tendências
naturais muitas vezes leva à auto-ilusão a respeito de causas e ao raciocínio post
hoc.
Por exemplo, um golfista
profissional com dores crônicas nas costas ou artrite
poderia experimentar um bracelete de cobre no pulso ou
palmilhas magnéticas nos sapatos. É provável que ele
tente essas engenhocas quando não estiver jogando ou se
sentindo bem. Percebe então que suas pontuações estão
melhorando e as dores estão diminuindo ou sumindo.
Conclui então que o bracelete de cobre ou a palmilha
magnética são a causa. Nunca ocorre a ele que as
pontuações e a dor provavelmente estão melhorando
devido a flutuações naturais e esperadas. Nem ocorre a
ele que poderia verificar os registros de todos as suas
pontuações no golfe antes de ter usado a bugiganga e
conferir se o mesmo tipo de padrão tinha ocorrido freqüentemente
no passado. Se tomasse sua pontuação média como base,
muito provavelmente descobriria que após uma pontuação
muito baixa ele tenderia a atingir não uma pontuação
mais baixa, e sim uma mais alta na direção da média.
Da mesma forma, descobriria que após uma pontuação
muito alta não tenderia a atingir outra ainda mais alta,
mas sim uma menor na direção da média.
Essa tendência de se mover
afastando-se dos extremos em direção à média foi
chamada de "regressão" por Sir Francis Galton
num estudo das alturas médias dos filhos de pais muito
altos e muito baixos. (O estudo foi publicado em 1885 e
chamou-se "Regressão em Direção à Mediocridade
na Estatura Hereditária.") Ele descobriu que filhos
de pais muito altos ou muito baixos tendiam a ser altos
ou baixos, respectivamente, mas não tão altos ou baixos
quanto seus pais.
O golfista profissional poderia
conferir suas pontuações porque se guardam registros de
cada partida jogada. Esses jogadores são freqüentemente
apresentados em testemunhos de alguma geringonça que
garantidamente irá melhorar sua pontuação no golfe.
Quem é que já ouviu algum deles citar um estudo
adequado (que não use início e fim opcionais) sobre pontuações no golfe que
demonstre que a melhora, se houver, não se deve a
flutuação natural e regressão?
Muitas pessoas são levadas pela
falácia regressiva a acreditar na eficácia causal de
remédios sem valor. A intensidade e a duração das
dores da artrite, dores crônicas das costas, gota, etc.,
naturalmente flutuam. É mais provável que se recorra a
um tratamento como a manipulação espinhal quiroprática ou um cinto magnético quando a pessoa
está num extremo da flutuação. Esse extremo
naturalmente será seguido por uma diminuição da dor.
É fácil iludirmos a nós mesmos achando de que o
tratamento a que recorremos causou a redução da dor. É
pela facilidade com que nos iludimos a respeito da
causalidade nesses assuntos que os cientistas fazem experiências
controladas para testar
alegações de causa.
Mesmo se um remédio
charlatanesco não funcionar, muitas vezes não leva a
culpa por sua ineficácia. Por exemplo, quando o
comediante Pat Paulsen recorreu a um tratamento médico
"alternativo" para o câncer em Tijuana, sua
filha não criticou o tratamento pela sua inutilidade
quanto o pai morreu. Paulsen, segundo relatos, esteve bem
por alguns dias, o que seria esperado como efeito de
flutuação natural. Sua filha afirmou que o tratamento
funcionava, mas falhou no caso dele porque teriam procurado
pelo tratamento tarde demais. Quando recebeu o
diagnóstico de câncer no cérebro e no cólon, sua
esposa Noma foi citada em reportagens dizendo que o
médico de Tijuana "está confiante de que [o
câncer] pode ser curado. Os médicos daqui dizem que
não. Nós gostamos muito mais dos de lá." Um
boletim oficial sobre sua morte afirmou que ele morreu de
pneumonia, não de câncer. Um porta-voz da família foi
citado dizendo: "O câncer estava sob controle após
a passagem por um tratamento alternativo no México.
Faleceu às 14 h na quinta-feira, após complicações
desencadeadas pela pneumonia e insuficiência renal após
uma cirurgia recente, não relacionada ao câncer."
Sua esposa não achou que a terapia alternativa fosse
inócua. Disse: "Queremos agradecer à nossa equipe
de médicos no México que tratou meu marido humanamente
e com respeito, e que esteve com ele 24 horas por dia
tentando salvar sua vida."*
Veja verbetes relacionados sobre hipóteses ad hoc, leitura fria, reforço comunitário, estudos controlados, navalha de Occam, início e fim opcionais, ciência patológica, efeito placebo, falácia post hoc, pensamento seletivo, auto-ilusão, validação subjetiva, testemunhos e wishful thinking.
leitura adicional
Gilovich,
Thomas. How We Know What Isn't So: The Fallibility of
Human Reason in Everyday Life [Como Sabermos o
Que Não é Bem Assim: A Falibilidade do Raciocínio
Humana no Dia a Dia] (New York: The Free Press,
1993)
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