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Robert Todd Carroll

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falácia regressiva

A falácia regressiva ocorre quando se deixa de levar em conta as flutuações naturais e inevitáveis das coisas quando tentamos verificar suas causas [Gilovich, p. 26]. Coisas como preços de ações na bolsa, pontuações no golfe e dores crônicas nas costas inevitavelmente flutuam. Períodos de preços em baixa, pontuações baixas e pouca ou nenhuma dor são, cedo ou tarde, seguidos por períodos de preços e pontuações altas, e dores mais fortes. A ignorância dessas flutuações e tendências naturais muitas vezes leva à auto-ilusão a respeito de causas e ao raciocínio post hoc.

Por exemplo, um golfista profissional com dores crônicas nas costas ou artrite poderia experimentar um bracelete de cobre no pulso ou palmilhas magnéticas nos sapatos. É provável que ele tente essas engenhocas quando não estiver jogando ou se sentindo bem. Percebe então que suas pontuações estão melhorando e as dores estão diminuindo ou sumindo. Conclui então que o bracelete de cobre ou a palmilha magnética são a causa. Nunca ocorre a ele que as pontuações e a dor provavelmente estão melhorando devido a flutuações naturais e esperadas. Nem ocorre a ele que poderia verificar os registros de todos as suas pontuações no golfe antes de ter usado a bugiganga e conferir se o mesmo tipo de padrão tinha ocorrido freqüentemente no passado. Se tomasse sua pontuação média como base, muito provavelmente descobriria que após uma pontuação muito baixa ele tenderia a atingir não uma pontuação mais baixa, e sim uma mais alta na direção da média. Da mesma forma, descobriria que após uma pontuação muito alta não tenderia a atingir outra ainda mais alta, mas sim uma menor na direção da média.

Essa tendência de se mover afastando-se dos extremos em direção à média foi chamada de "regressão" por Sir Francis Galton num estudo das alturas médias dos filhos de pais muito altos e muito baixos. (O estudo foi publicado em 1885 e chamou-se "Regressão em Direção à Mediocridade na Estatura Hereditária.") Ele descobriu que filhos de pais muito altos ou muito baixos tendiam a ser altos ou baixos, respectivamente, mas não tão altos ou baixos quanto seus pais.

O golfista profissional poderia conferir suas pontuações porque se guardam registros de cada partida jogada. Esses jogadores são freqüentemente apresentados em testemunhos de alguma geringonça que garantidamente irá melhorar sua pontuação no golfe. Quem é que já ouviu algum deles citar um estudo adequado (que não use início e fim opcionais) sobre pontuações no golfe que demonstre que a melhora, se houver, não se deve a flutuação natural e regressão?

Muitas pessoas são levadas pela falácia regressiva a acreditar na eficácia causal de remédios sem valor. A intensidade e a duração das dores da artrite, dores crônicas das costas, gota, etc., naturalmente flutuam. É mais provável que se recorra a um tratamento como a manipulação espinhal quiroprática ou um cinto magnético quando a pessoa está num extremo da flutuação. Esse extremo naturalmente será seguido por uma diminuição da dor. É fácil iludirmos a nós mesmos achando de que o tratamento a que recorremos causou a redução da dor. É pela facilidade com que nos iludimos a respeito da causalidade nesses assuntos que os cientistas fazem experiências controladas para testar alegações de causa.

Mesmo se um remédio charlatanesco não funcionar, muitas vezes não leva a culpa por sua ineficácia. Por exemplo, quando o comediante Pat Paulsen recorreu a um tratamento médico "alternativo" para o câncer em Tijuana, sua filha não criticou o tratamento pela sua inutilidade quanto o pai morreu. Paulsen, segundo relatos, esteve bem por alguns dias, o que seria esperado como efeito de flutuação natural. Sua filha afirmou que o tratamento funcionava, mas falhou no caso dele porque teriam procurado pelo tratamento tarde demais. Quando recebeu o diagnóstico de câncer no cérebro e no cólon, sua esposa Noma foi citada em reportagens dizendo que o médico de Tijuana "está confiante de que [o câncer] pode ser curado. Os médicos daqui dizem que não. Nós gostamos muito mais dos de lá." Um boletim oficial sobre sua morte afirmou que ele morreu de pneumonia, não de câncer. Um porta-voz da família foi citado dizendo: "O câncer estava sob controle após a passagem por um tratamento alternativo no México. Faleceu às 14 h na quinta-feira, após complicações desencadeadas pela pneumonia e insuficiência renal após uma cirurgia recente, não relacionada ao câncer." Sua esposa não achou que a terapia alternativa fosse inócua. Disse: "Queremos agradecer à nossa equipe de médicos no México que tratou meu marido humanamente e com respeito, e que esteve com ele 24 horas por dia tentando salvar sua vida."*

Veja verbetes relacionados sobre hipóteses ad hoc, leitura fria, reforço comunitário, estudos controlados, navalha de Occam, início e fim opcionais, ciência patológica, efeito placebo, falácia post hoc, pensamento seletivo, auto-ilusãovalidação subjetiva, testemunhos  e wishful thinking.


leitura adicional

Gilovich, Thomas. How We Know What Isn't So: The Fallibility of Human Reason in Everyday Life [Como Sabermos o Que Não é Bem Assim: A Falibilidade do Raciocínio Humana no Dia a Dia] (New York: The Free Press, 1993) 

©copyright 2000
Robert Todd Carroll

traduzido por
Ronaldo Cordeiro

Última atualização: 2000-11-20

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