Reincarnação

A crença de renascer noutro corpo; a crença de que vivemos antes e viveremos novamente noutro corpo após a morte.

Era uma crente vulgar nas religiões orientais como o hinduismo e o budismo, mas agora é uma pedra base de teorias como a dianética e o canalizar. Nas religiões antigas, a reincarnação não era algo de bom, mas uma coisa má. Atingir o estado mais elevado (nirvana) era escaparmos da roda dos nascimentos. Nas religiões da Nova Era, parece ser algo de perverso. Prepare-se nesta vida para o que ou quem se tornará na próxima. Crença na reincarnação abre tambem as portas para as terapias da Nova Era, que procuram as causas dos nossos problemas hoje nas experiênciass das nossas vidas passadas. Porque é que alguem pensa que uma dôr crónica no estomago é devida a ter sido esfaqueado há dois mil anos numa arena Romana, ultrapassa-me. Suponho que estas crenças são atraentes porque não podem ser provadas. Mais, os pacientes parecem fazer bicha para ouvir estes disparates.

L. Ron Hubbard, autor de Dianetics e fundador da Cientologia, introduziu a sua própria versão da reincarnação na sua nova religião. De acordo com Hubbard, as vidas passadas precisam de serem auditadas para ir à raiz dos seus "problemas." Tambem afirma que a "Dianetica deu impeto a Bridey Murphy" e alguns cientologistas foram cães e outros animais em vidas passadas ("A Note on Past Lives" em The Rediscovery of the Human Soul). De acordo com Hubbard, "Foi só com a Cientologia que os mecanismos da morte foram completamente compreendidos." O que acontece na morte é: o Thetan (espirito) encontra-se sem um corpo (que morreu) e vai á procura de novo corpo. Thetans "andarão à volta das pessoas. Veem uma mulher grávida e seguem-na na rua." Então, o Thetan entra no recem nascido "geralmente... dois ou três minutos após a criança sair de dentro da mãe. Um Thetan geralmente aproveita o momento em que a criança respira pela primeira vez." Como Hubbard sabe isto nunca é revelado.

J.Z. Knight afirma que em 1977 o espirito de um guerreiro do Cro-magnon que viveu na Atlantida possuiu i seu corpo de modo a transmitir regras de sabedoria que reuniu ao longo dos séculos. O sr. Knight parece continuar o trabalho de Jane Roberts e Robert Butts, que em 1972 surgiram no mercado com Seth Speaks. Knight, Roberts e Butts estão em divida para com Edgar Cayce que afirmava estar em contacto com muitas das suas vidas passadas. Pode pensar que o canalizar baralha um bocado as coisas. Porque se vários espiritos do passado podem entrar numa pessoa em qualquer momento sem destruir a presente pessoa, é possivel que quando alguem se recorda de uma vida passada não seja essa pessoa que se está a lembrar.

De um ponto de vista filosófico, a reincarnação coloca alguns problemas interessantes. O que é reincarnado? Presumivelmente, é a alma. Se as almas existem, podemos afirmar que ou existem eternamente ou são criadas. E podemos tambem considerar que ou teem um fim ou existem para sempre. Podemos afirmar que são colocadas por Deus no momento da concepção ou que são livres de entrar num bebe no momento do nascimento. Podem entrar e sair dos corpos à vontade. De facto as possibilidades das relações das almas com os corpos são infinitas. A projecção astral oferece uma possibilidade. A alma imortal deixando o corpo e indo para o céu ou para o inferno é uma possibilidade. Podemos explicar as crianças prodígio defendendo que ao contrário da maior parte das reincarnações em que a alma tem de começar do zero, a criança prodigio recebe uma alma que tráz conhecimentos da vida anterior, dando-lhe vantagens sobre os restantes. Podemos explicar o deja vu como memórias de vidas passadas. Os sonhos podem ser explicados como viagens da alma. Mas antes de pensarmos nestas explicações devemos antes pensar na ideia da alma. Esta substância não-substância é um absurdo, uma noção auto-contraditória. A ideia de um contentor não espacial é tão concebivel como a de um verme não espacial.

Mas se aceitamos por um momento que a ideia de alma é possivel, podemos assumir que existiu do nada a partir de um dado momento, ou que evoluiu a partir de algo, ou que existiu sempre. Não penso que haja um crente que aceite que a alma evoluiu a partir de algo. Portanto, ou surgiu do nada ou existiu sempre. Se existiram sempre e a reincarnação está correcta, então a população mundial devia permanecer constante. Done, ou as almas não existiram sempre ou a reincarnação não está correcta. Se assumimos que as almas não existiram sempre, então, por silogismo disjunctivo devemos concluir que a reincarnação não é correcta. Portanto, para a reincarnação ser correcta, as almas não podem ter existido sempre. Mas se a reincarnação está correcta as almeas devem surgir do nada. Mas a reincarnação exige que já exista uma alma para reincarnar. Se as almas surgem de repente porquê assumir que (a) entram em corpos, ou (b) surgem apenas para saltar de corpo em corpo? Podemos assumir que as almas emergem e encontram um corpo e agarram-se a ele até à morte, e saltam para o seguinte, ad infinitum ou ad nauseam ou ad qualquer coisa. Podemos assumir isso, mas para quê? Que razão para assumir tão estranha crença?

Se um afirma que a reincarnação não é inutil, pois ajuda a explicar o mencionado acima, então teremos de fornecer explicações alternativas. Por exemplo, regressões a vidas passadas e deja vu são melhor explicadas como recordações desta vida. Sonhos e crianças prodigio são melhor explicadas como resultado de actividade cerebral. O meu ponto de vista é que não havendo maneira de distinguir um bebe cuja alma vai para o céu ou para o inferno de um bebe cuja alma esteve antes noutros corpos de um bebe sem alma nenhuma, segue-se que a ideia de alma não acrescenta nada ao nosso conceito de ser humano. Donde, quer a reincarnação quer a ideia de uma alma imortal que vai para o céu ou para o inferno são igualmente inuteis e sem sentido.

Finalmente, visto não haver maneira de dizer a diferença entre um bébé com alma que vai para o céu ou o inferno, de um cuja alma tem andado por outros corpos, de um sem alma, a ideia de alma não acrescenta nada à nossa concepção de ser humano. Aplicando a navalha de Occam, quer a ideia de reincarnação quer a ideia de uma alma imortal que irá para o céu ou para o inferno, são igualmente desnecessárias.


Leituras

Baker, Robert A. Hidden Memories : Voices and Visions from Within (Amherst, N.Y.: Prometheus Books, 1996).

Baker, Robert A. They Call It Hypnosis (Buffalo, N.Y.: Prometheus Books, 1990). 

Edwards, Paul. Reincarnation: A Critical Examination (Amherst, N.Y.: Prometheus Books).

Hubbard, L. Ron. The Rediscovery of the Human Soul (Scientology, 1996).

Spanos, Nicholas P. "Past-Life Hypnotic Regression: A Critical View," The Skeptical Inquirer, Winter 1987-1988

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